27 de março de 2009

Você tem tempo pra quê?

Muito tem se falado sobre economia de custos. E não é para menos, afinal de contas, organizações do mundo inteiro, independente de seu porte ou nicho de atuação, ainda vêm sofrendo os impactos da crise financeira mundial. Além do corte de pessoal ou da adoção de períodos prolongados de recesso, algumas companhias têm enxugado seus parques fabris e/ou tecnológicos, investido na contratação de terceiros, diminuído as verbas dos departamentos de marketing e comunicação. Outras, por sua vez, trataram de cortar o capuccino, trocar as lâmpadas naturais por fluorescentes e impôr limites para a impressão de folhas.

Enfim, não cabe aqui julgar o mérito dessas iniciativas, mas cabe uma reflexão: gerenciar melhor o tempo de trabalho de cada colaborador também não seria uma alternativa interessante para reduzir os custos? Na época de bonança é muito comum ouvir a expressão 'tempo é dinheiro'. Ora, por que o mesmo não se aplicaria à épocas de crise como essa que estamos vivendo?! Acontece que muitas pessoas interpretam gerenciamento de tempo meramente como um instrumento para ganhar mais dinheiro e esquecem que é uma maneira bastante inteligente também de se poupar dinheiro.

Não sou um especialista no assunto, mas tenho procurado, na condição de presidente de uma organização internacional, fazer um melhor uso do tempo que tenho disponível e servir de exemplo para os outros. Independente do nível hierárquico, reuniões, palestras, apresentações e afins ocupam as agendas diárias de milhares de pessoas. Muitas vezes, essas reuniões se alongam por uma manhã ou por uma tarde inteira e, somadas ao trânsito para o deslocamento de ida e volta, acabam por ocupar todo o dia de trabalho. Acredito firmemente que uma reunião de mais de 45 minutos é improdutiva e que 7 minutos são mais do que necessários para se apresentar uma idéia ou um projeto. Em seu evento global de intercâmbio de melhores práticas, por exemplo, a Ambev leva o princípio da efetividade à risca, dando sete minutos para que um executivo convença a diretoria que sua ação de vendas é a melhor entre todas as apresentadas pelas várias unidades do grupo, no mundo todo.

A cada ano, mais de 300 práticas são pré-selecionadas. Comitês julgadores de cada categoria (industrial, logística e distribuição, gente, comercial e marketing, custos e responsabilidade social) elegem três idéias para concorrer no evento. Assim, 18 práticas são apresentadas às lideranças da companhia.
Ainda nesse contexto, um modelo inspirador é o projeto TED, sigla para Technology, Entertainment and Design, e cujo lema é Ideas worth spreading. O TED começou como uma conferência nos idos de 1984, reunindo grandes pensadores com a premissa de disseminar conhecimento e expor idéias para mudar atitudes, comunidades e o mundo. Desde então o evento foi crescendo em escala exponencial.

Ocorre anualmente na cidade de Long Beach, na Califórnia, durante quatro dias. São cerca de 50 palestrantes de diversos países, compartilhando avanços em diversas áreas, como ciência, economia, questões globais e artes. Detalhe: todos têm o grande desafio de apresentar suas idéias e descobertas em apenas 18 minutos! Bill Clinton, Bono Vox, JJ Abrams (criador da série Lost), Chris Anderson (editor chefe da revista Wired e autor do livro 'A cauda longa'), Jeff Bezos (fundador da Amazon), Al Gore, Stephen Hawking e Peter Gabriel são alguns dos colaboradores.
Enfim, as empresas tem se esmerado em buscar estratégias para cortar custos. Mas será mesmo que é preciso fazer algo totalmente novo em termos de gestão? Os exemplos que citei nesse artigo são simples, mas têm se mostrado eficazes. A questão fundamental é saber mensurar quanto seu tempo de trabalho vale para a organização e, a partir daí, se perguntar: você tem tempo pra quê?

Marcelo Lacerda, presidente da LANXESS
www.administradores.com.br

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